SITAWI promove ação de desenvolvimento territorial na Amazônia
Por: GIFE| Notícias| 13/08/2018Promover o desenvolvimento territorial de uma região é tarefa desafiadora. Deve-se olhar para as inúmeras dimensões que compõem o local e dar atenção especial a cada uma delas. Por isso, no projeto Desenvolvimento Territorial da Amazônia, a SITAWI Finanças do Bem conta com vários parceiros.
Para compreender a história do programa Território Médio Juruá (TMJ), é preciso ter um panorama da região, localizada no interior do estado do Amazonas, antes da chegada da SITAWI. Desde 2014, o Fórum Território Médio Juruá (TMJ) se reúne para coordenar e priorizar ações nas reservas locais com o intuito de implementar um Plano de Desenvolvimento Territorial que olhasse para as dimensões social, ambiental e econômica e para as demandas das comunidades ribeirinhas do município de Carauari.
Rob Packer, gerente de programas territoriais da SITAWI e coordenador da iniciativa, explica que a entrada da organização como secretária executiva do Fórum aconteceu a partir do convite do Instituto Coca-Cola Brasil e Natura, em 2015. “O programa Território Médio Juruá é um desdobramento do Fórum do Médio Juruá. O Instituto Coca-Cola e a Natura, que já atuavam na região, começaram a perceber suas sinergias na parte de desenvolvimento de cadeias produtivas e decidiram reunir um grupo de associações locais e os gestores das reservas.”
Além das duas corporações, o Fórum é composto por organizações da sociedade civil (OSCs) e empresas locais como Associação dos Produtores Rurais de Carauari (ASPROC); Associação dos Moradores Agroextrativistas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari (AMARU); Associação de Moradores Extrativistas da Comunidade de São Raimundo (AMECSARA); Associação de Mulheres Agroextrativistas do Médio Juruá (ASMAMJ); Fundação Amazônia Sustentável (FAS); Cooperativa Mista de Desenvolvimento Sustentável da Reserva do Médio Juruá (CODAEMJ); Açaí Tupã, entre outras.
Órgãos governamentais de proteção ao meio ambiente também fazem parte do grupo, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Departamento de Mudanças Climáticas e Gestão de Unidades de Conservação do estado do Amazonas (DEMUC).
Apoio internacional
Nesse cenário, a SITAWI foi convidada para coordenar o desenvolvimento de uma proposta para ser apresentada em um edital da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID). “Nós participamos de muitas reuniões, ouvimos sobre as prioridades de cada um dos stakeholders da região e de fora também, para chegar em um projeto redondo, que olhasse para um modelo de desenvolvimento sustentável que tivesse como norte a conservação da biodiversidade, mas que também olhasse para a parte econômica nas formas das cadeias de produção e para o desenvolvimento social”, explica Rob.
Além de ouvir atores locais e representantes das comunidades ribeirinhas, as prioridades do programa também foram estabelecidas a partir do Índice de Progresso Social (IPS). Criada pelo economista americano Michael Porter, a medição é utilizada no Médio Juruá desde 2015 pelo Instituto Coca-Cola e Natura, e tem como objetivo medir o progresso social sem considerar fatores econômicos. “Com o IPS, você olha para questões que não fazem parte do perfil econômico de um país ou região, ou seja, pontos relacionados à sobrevivência humana e fundamentos do bem-estar como nutrição, saúde básica, água e saneamento, moradia, segurança, direitos pessoais, liberdade de escolha, tolerância e educação avançada.”
A avaliação dos dados consistiu na comparação entre a média nacional e o resultado local para as questões citadas acima. A partir dessa análise, a SITAWI desenvolveu o conteúdo técnico e financeiro a ser inscrito no edital americano. “Tudo foi feito basicamente a partir de reuniões presenciais, com muita cocriação e participação não só da SITAWI, mas também das empresas, associações e representantes das comunidades. Todo mundo discutiu junto sobre ações para chegar em um ponto de acordo e mandar o projeto para a USAID.”
Ter um proposta construída a partir de oficinas participativas, com a aposta das organizações envolvidas no processo de escuta dos moradores e representantes locais, contribuiu no empoderamento das organizações da região. “Eu acredito que as pessoas sentem que têm uma voz, já que não foi como se uma organização de fora chegasse no território e dissesse ‘vamos fazer assim’. Foi muito mais uma questão de ouvir e passar um tempo com as pessoas para entender o que exatamente o pessoal daquelas comunidades quer e precisa”, ressalta Rob.
Ações de desenvolvimento territorial
O investimento de R$ 15 milhões da USAID – sendo que metade do recurso tem origem em contrapartidas – foi fundamental para o desenvolvimento de iniciativas que compõem os eixos do programa.
No eixo de Cadeias de Produção, são realizados estudos sobre a produtividade do Médio Juruá, que conta com cadeias produtivas de açaí, andiroba, murumuru e o manejo sustentável do pirarucu. Outras iniciativas envolvem a conservação de quelônios, apoio para consolidar uma casa familiar rural, educação ambiental, entre outros.
“Em termos de educação ambiental, nós apoiamos projetos que já existem para treinar agentes ambientais voluntários, mas também há a proposta de expandir a atuação e colocar em prática uma metodologia que chama ‘Pedagogia da alternância’, que propõe metade do tempo na sala de aula e a outra metade na roça, para que as comunidades possam terminar o Ensino Médio, mas também aprender sobre questões de ecologia e produção”, explica Rob.
O desenvolvimento do empreendedorismo local com enfoque na questão do empoderamento de mulheres para que elas comecem a criar negócios próprios é um dos pilares do trabalho no Médio Juruá. Outra vertente é capacitar jovens uma vez que, segundo o gestor de programas, eles são as futuras lideranças da região. “É muito importante que os jovens entendam o histórico da região, saibam como gerenciar recursos e projetos. Eles também serão envolvidos na comunicação do projeto, com a produção de conteúdos sobre as ações locais, porque nós entendemos que as melhores pessoas para contar sobre a vida na região são os próprios moradores.”
No eixo de desenvolvimento local, por sua vez, são desenvolvidas ações de educação; água e saneamento, em parceria com o programa Água+Acesso do Instituto Coca-Cola; energia e informação; e comunicação.
Duas iniciativas se destacam na parte de infraestrutura. Uma delas é a instalação de 600 lâmpadas que usam energia solar nas comunidades. “A tecnologia chama litro de luz, que usa energia solar para alimentar uma lâmpada durante seis horas. A lâmpada é colocada dentro de uma garrafa pet para espalhar a luz. As 600 que já foram construídas impactaram diretamente três mil pessoas, que antigamente usavam geradores para ter no máximo duas horas de energia por dia.”
A outra ação consiste na ampliação do sistema de rádio, que também faz uso da energia solar. Segundo Rob, a atenção inicial para o rádio foi decidida porque essa cultura já existe na região. Vale ressaltar, entretanto, que trata-se de radiofonia, ou seja, o desenvolvimento do sistema para que as pessoas consigam se comunicar, como se fosse um telefone. “Isso não só ajuda na comunicação entre as comunidades, mas também apoia as iniciativas de conservação porque com a comunicação é possível coordenar as ações muito melhor.”
Todas essas ações são realizadas de forma coordenada para alcançar o objetivo comum de conservar a biodiversidade do território. Como representante da SITAWI no projeto, Rob afirma que a visão é de que um eixo contribui para o fortalecimento do outro.
“No lado econômico, nós queremos apoiar as cadeias da região. Mas, além disso, é preciso dar atenção a algumas questões de desenvolvimento social e criar um nível de capital humano nas comunidades para que as pessoas se sintam empoderadas. O investimento nas cadeias sustentáveis fortalece a conservação da biodiversidade e também faz com que as pessoas enxerguem um futuro nas comunidades. Dar oportunidades aos moradores locais significa cuidar melhor da biodiversidade, porque haverá pessoas capacitadas nessas questões ambientais em comunidades tradicionais ribeirinhas.”