140 bilhões de dólares são gastos por ano em consequência de eventos climáticos extremos
Por: GIFE| GIFEnaCOP| 23/10/2023Rio Grande do Sul – Ciclone – Sobrevoo, assistência e resgate de pessoas ilhadas em Bom Retiro do Sul (RS). Foto: Marinha do Brasil/RS
Entre 2000 e 2019, foram gastos cerca de 140 bilhões de dólares por ano em danos gerados por eventos climáticos extremos, como tempestades, ondas de calor, secas e deslizamentos. É o que mostra um estudo publicado na revista Nature Communications, que também constatou que mais de um bilhão de pessoas foram afetadas por impactos climáticos ao longo desses 20 anos.
Nesse contexto, a necessidade de implementar políticas de adaptações climáticas surge como uma necessidade. Em 2021, foi assinado por mais de 200 países o Pacto Climático de Glasgow, produto da COP26. Entre os focos do acordo, está a adaptação climática.
Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o tema “relaciona-se ao processo de ajuste de sistemas naturais e humanos ao comportamento do clima no presente e no futuro. Em sistemas humanos, a adaptação procura reduzir e evitar danos potenciais; ou explorar oportunidades benéficas advindas da mudança do clima. Em sistemas naturais, a intervenção humana busca apoiar o ajuste destes sistemas ao clima atual e futuro e seus efeitos”.
Plano Nacional de Adaptação e grupos vulneráveis
No Brasil, um exemplo recorrente acerca da falta de políticas de adaptação climática é a comoção pontual que acontece nas tragédias sazonais referentes a fortes chuvas.
“Não é mais aceitável que haja mobilização somente nos momentos de tragédia. Políticas públicas de adaptação devem ser prioridade no orçamento, priorizando áreas de risco e considerando conhecimentos gerados nos territórios”, destaca Mariana Belmont, integrante do conselho da Nuestra América Verde e da Rede por Adaptação Antirracista.
No Brasil, existe o Plano Nacional de Adaptação (PNA). Como o país receberá a COP30 em 2025, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima iniciou em junho o segundo ciclo do PNA.
Para Mariana Belmont, é preciso atualizar o Plano, assegurando a implementação de políticas nacionais, com ênfase na gestão ambiental e territorial, fortalecendo a agricultura familiar e a titulação de terras quilombolas. Ela reforça ainda a importância da retomada dos espaços de participação.
“É necessário implementar a partir de Planos Comunitários políticas de longo prazo de democratização do acesso à terra, habitacionais, de urbanização e regularização fundiária destinadas à população negra e periférica para que elas possam se adaptar às mudanças do clima.”
A Rede Por Adaptação Antirracista tem um documento publicado com reinvindicações para que haja com urgência a revisão do PNA.
Atenção da filantropia para as adaptações climáticas ainda é baixa
Considerando que atividades empresariais também contribuem significativamente para eventos climáticos extremos, Mariana Belmont acredita que as empresas também devem ser chamadas à ação climática. “É urgente que o setor privado adote concretamente práticas responsáveis para com o meio ambiente e a sociedade.”
Apesar da relevância do tema, a ativista ressalta que a atenção da filantropia para as adaptações climáticas, especialmente no tema do racismo ambiental, ainda é baixa.
“Não há apoio para que organizações negras e periféricas tenham recursos que fortaleçam a incidência política, para criação de planos de adaptação comunitários, participação social nos espaços e equipe técnica para levantamentos de dados racializados”, finaliza.