Fortalecimento da democracia, avanço da equidade e combate às mudanças climáticas devem ser prioridade do setor em 2025, aponta Giovanni Harvey

Por: GIFE| Notícias| 13/01/2025

Brasília, (DF), 13/09/2024 - Exposição “8/1: Democracia e Restauração”, mostra processos de restauração das obras vandalizadas nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023. Foto Valter Campanato/Agência Brasil.

Em entrevista ao redeGIFE, o diretor-executivo do Fundo Baobá para a Equidade Racial e Conselheiro do GIFE, Giovanni Harvey, avaliou a conjuntura de 2025 para a filantropia

Marcado pela liderança brasileira no G20 e pelas recentes eleições municipais no último ano, a sociedade civil brasileira se prepara para os desafios de 2025.

Para entender quais focos de atuação devem predominar no setor este ano, o GIFE conversou com Giovanni Harvey, diretor-executivo do Fundo Baobá para Equidade Racial. Ele tem 30 anos de experiência como executivo na iniciativa privada, na administração pública e no terceiro setor, além de compor os conselhos da Todos Pela Educação, Motriz, GIFE e Rede Comuá.

Quais agendas da sociedade civil brasileira devem predominar em 2025, e quais os principais desafios para cumpri-las?

Três temas deverão permanecer na pauta. Ampliar e consolidar o entendimento de democracia, com a maior amplitude ideológica possível, incluindo “acordos” suprapartidários que inibam iniciativas de contestação do Estado Democrático de Direito e suas instituições. Avançar com a promoção da equidade de grupos minorizados, para além da mera constatação material das desigualdades: visibilizar exemplos concretos de diversidade nos ambientes sociais, mensurar resultados com base em indicadores e desmistificar as formas contemporâneas de manutenção das relações de subordinação existentes entre segmentos sociais. Dar um salto de qualidade no debate sobre mudanças climáticas, reconhecendo a premência da mudança dos hábitos de consumo, incluindo a redução drástica do consumo de combustíveis fósseis e do desmatamento. 

A pesquisa “Olhares do ISP”, lançada pelo GIFE, revela uma preocupação: o quanto atores e atrizes do campo ainda consideram a pauta da equidade como algo futuro, que se desenrolará “naturalmente” em suas organizações. Até que ponto tem sido concreto o comprometimento do investimento social privado com a agenda?

O “Mito da Democracia Racial” e os seus subprodutos, dentre os quais destaco a (i) “meritocracia dissociada do contexto”, (ii) a crença de que as desigualdades de oportunidades serão superadas “apenas” com a elevação da escolarização das pessoas identificadas com os grupos minorizados e a (iii) recorrente tentativa de tutela que os grupos hegemônicos buscam manter sobre os grupos minorizados, permanecem presentes, inclusive nas organizações da sociedade civil, na filantropia e no ISP. Há exemplos positivos, mas a maioria das iniciativas de incorporação de pessoas negras, por exemplo, nas instâncias decisórias são ilusórias. Eu não diria que falta algo “para melhorar”, diria que a subsistência destas práticas reflete o estágio de compreensão e da maturidade da sociedade brasileira.

Ainda sobre a pesquisa, um dos consensos encontrados entre os participantes, está o de que inexiste uma cultura de doação no Brasil. O senhor acredita que é possível avançar em relação a esse cenário em 2025?

Giovanni Harvey é diretor-executivo do Fundo Baobá para a Equidade Racial e Conselheiro do GIFE

A resposta depende do que chamamos “cultura de doação” e sobre quais culturas de doação estamos falando. Existem movimentos de base, alguns dos quais com mais de dois séculos de existência, sustentados por diferentes “culturas de doação”. O conceito de doação não pode se restringir a doação financeira, há outras formas igualmente importantes. Creio que é preciso aprofundar este debate, para além dos modelos praticados pelo ISP e pela filantropia tradicional, sobretudo quando pautados por uma visão assistencialista, sem nenhuma perspectiva de crítica social, reprodutores do status quo e da dominação, sob os mais variados pretextos.

O G20 Social, iniciativa do Brasil para a sociedade civil ser ouvida no processo de elaboração de políticas públicas, vai ter continuidade na próxima edição da cúpula, na África do Sul, em 2025. Quais as expectativas da filantropia para a presidência sul-africana, e para concretizar as propostas discutidas sob a liderança brasileira?

O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, participou de atividades do G20 Social no Brasil, se comprometeu a dar continuidade a iniciativa e anunciou que o tema central da próxima edição será “solidariedade”. As declarações do presidente sul-africano, incluindo o detalhamento dos subtemas que serão discutidos no âmbito desta iniciativa, criaram um ambiente favorável para que as pautas que foram discutidas no Brasil tenham continuidade, e produzam resultados concretos. A minha expectativa é positiva, embora haja uma série de aspectos geopolíticos que impactam na efetividade desta agenda.

A COP 30, que será realizada em Belém (PA), coloca o Brasil no centro das discussões climáticas globais em 2025. Qual papel a filantropia brasileira deve cumprir?

A filantropia, não apenas no Brasil, vem cumprindo um papel importante no debate sobre as mudanças climáticas.  A realização da COP 30 no Brasil nos coloca numa condição de maior visibilidade, sobretudo em função da importância que o Brasil tem nesta agenda. A minha expectativa é que a filantropia brasileira exercerá o protagonismo neste processo, liderando debates e iniciativas que poderão ter um impacto significativo nos diversos ecossistemas que dialogam com o tema.


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