“Queremos mostrar que internalizar os ODS é uma relação de ganha-ganha: amplia a competitividade e trabalha em prol da Agenda Global de Sustentabilidade”

Por: GIFE| Notícias| 14/01/2019

2019 abre um novo ano na corrida pela implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e tanto o setor empresarial quanto as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) precisam estar atentas ao tema.

Pesquisa realizada pelo Pacto Global das Nações Unidas e pela Accenture em 2016 com mais de mil CEOs revela que 87% deles concordam que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável representam uma oportunidade essencial para as empresas repensarem suas abordagens em relação à sustentabilidade.

Lançado em 2000, o Pacto Global nasceu da necessidade de mobilizar a comunidade empresarial do mundo para a adoção de valores fundamentais e internacionalmente aceitos em suas práticas de negócios.Com base em dez princípios universais ligados aos temas Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção, a iniciativa é um avanço na implementação de um regime de direitos humanos e sustentabilidade empresarial.

Quem integra a rede assume ainda a responsabilidade de contribuir para o alcance dos ODS. Como principal canal da Organização das Nações Unidas (ONU) com o setor privado, o Pacto Global tem a missão de engajar as empresas na implementação da Agenda 2030. Aprovada em 2015, a nova agenda de desenvolvimento sustentável da ONU reúne 17 objetivos e 169 metas a serem alcançadas pelos países membro até 2030. A agenda busca assegurar os direitos humanos, acabar com a pobreza, lutar contra a desigualdade e a injustiça, alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas, agir contra as mudanças climáticas, bem como enfrentar outros dos maiores desafios contemporâneos.

Atualmente, são quase 13 mil signatários articulados em mais de 160 países. Fazem parte pequenas, médias e grandes empresas, além de organizações da sociedade relacionadas ao setor privado.

No Brasil, o Pacto Global conduz atividades e projetos por meio de Grupos Temáticos (GTs) divididos nos ODS, Água, Alimentos e Agricultura, Energia & Clima, Direitos Humanos & Trabalho e Anticorrupção.

Com quase 800 membros, a Rede Brasil do Pacto Global – da qual fazem parte diversos associados ao GIFE -, foi criada em 2003 e se tornou a terceira maior do mundo em empresas signatárias – atrás somente da Espanha e da França.

Atualmente, a Rede tem 30 iniciativas em andamento, que contam com a participação de mais de 100 empresas, 12 agências da ONU e sete agências governamentais.

O redeGIFE entrevistou o secretário-executivo da Rede Brasil do Pacto Global, Carlo Pereira. A seguir, ele fala sobre os desafios e as oportunidades para o avanço da implementação dos ODS no país e sobre o papel do investimento social privado, bem como das organizações da sociedade civil e poder público para o alcance das metas. Confira.

redeGIFE – Quais são os desafios e oportunidades projetados para o próximo período no que se refere ao alcance dos ODS frente ao contexto político, social e econômico no Brasil?

Carlo Pereira – Os ODS são uma agenda comum, da humanidade. Tangibilizam os nossos grandes desafios e precisamos agir de forma integrada para alcançá-los. No Pacto Global, seguiremos com o princípio de trabalhar em parceria com a iniciativa privada, os governos, as organizações da sociedade civil e a academia na implementação de iniciativas que contribuam para o alcance dos ODS. Temos uma agenda muito clara no país, que abrange projetos nas áreas de Direitos Humanos, Energia e Clima, Anticorrupção, Alimentos e Agricultura, Água e Saneamento, além do engajamento do setor privado em torno dos ODS. E continuaremos com nossas ações. Somos a terceira maior rede de mundo, com quase 800 membros, e queremos expandir ainda mais a nossa atuação nos próximos anos, ampliando, inclusive, o engajamento de pequenas e médias empresas. Esse é o nosso plano e esperamos seguir contando com o envolvimento de representantes das diversas esferas da sociedade em nossos projetos. Hoje, temos 30 iniciativas em andamento, as quais contam com a participação de mais de 100 empresas, 12 agências da ONU e sete agências governamentais.

redeGIFE – Como você avalia a atuação e o papel do investimento social privado frente à tarefa de implementação da Agenda 2030 no Brasil?

Carlo Pereira – Vejo como primordial. Dos 200 maiores PIBs [Produto Interno Bruto] do mundo, 157 são empresas. Os 250 menores PIBs somados atingem valor semelhante às receitas das 10 maiores empresas. Elas têm poder econômico e grande potencial para impactar a sociedade por meio dos seus produtos e serviços, da forma como conduzem suas operações, das ações de mobilização e conscientização dos funcionários, das políticas internas de gestão de pessoas, das iniciativas de engajamento de suas cadeias de valor e da preocupação com as comunidades no entorno e do impacto ambiental que geram. O Pacto Global foi criado em 2000 justamente para engajar o setor privado em torno de 10 princípios nas áreas de Direitos Humanos, Trabalho, Meio Ambiente e Anticorrupção. Estamos evoluindo. Uma pesquisa realizada recentemente dentro de nossa rede apontou que 51,25% possuem estratégias de atuação relacionadas aos ODS com compromisso púbico. Outras 26,88% disseram que já começaram a trabalhar em alinhamento, mas encontram-se em fase de planejamento. As demais, 21,87%, afirmaram que ainda não relacionaram suas estratégias aos ODS. Por outro lado, acho que as coisas precisam ocorrer de forma mais rápida e dinâmica. Dados recentes apontam, por exemplo, que as emissões de gases de efeito estufa no mundo todo estão crescendo. Ou seja, ainda existe muito discurso e faltam ações. São várias frentes de trabalho: as grandes empresas comprometidas com ações concretas de mudanças em suas operações e no engajamento de sua cadeia; os governos com a elaboração de políticas públicas, investimentos e acompanhamento; e as organizações da sociedade civil e a academia apoiando com estudos, o monitoramento do que está ocorrendo e o apoio no desenvolvimento de ações. Vejo dentro de nossa rede empresas com atuação madura no campo da sustentabilidade, que inseriram realmente os ODS em suas estratégias de negócios. Enxergam os desafios da humanidade e as limitações em suas operações que esses problemas podem gerar e estão investindo em tecnologias para equacionar essas questões. Mas falta escala e essas grandes organizações podem influenciar mais os seus stakeholders, para que todos entendam e realizem iniciativas semelhantes. Acredito na difusão das boas práticas e das mudanças com exemplos. Assim, estamos procurando envolver a nossa rede em ações de engajamento de sua cadeia. Lançamos em 2018 a Campanha ODS e o Setor Empresarial com esse fim. Iniciamos um programa de conscientização via associações e federações que são atuantes no Pacto para mostrar o link direto entre ODS, oportunidades de negócios e perpetuidade para as associadas, muitas pequenas e médias organizações, e entregamos para nossos membros no final de 2018 um kit para fornecedores. Mas existem várias outras frentes que estão sendo trabalhadas, como produção de guias que mostram como as empresas podem integrar os ODS em suas operações, palestras em todo o Brasil, projetos, enfim, uma série de ações para ampliar o envolvimento do setor privado com a Agenda de Sustentabilidade.

redeGIFE – Qual é a importância das articulações locais (municipais e estaduais) na estratégia de implementação dos ODS nacionalmente?

Carlo Pereira – São muito importantes, pois a execução das ações é local, nos municípios, principalmente. Hoje, temos em nossa rede mais de 60 representantes do poder público, sendo que as cidades são a maioria. Uma das nossas ações é o Movimento Menos Perda, Mais Água, cujo objetivo é reduzir as perdas de água nos sistemas de distribuição, que chegam, em média, a quase 40%, no Brasil. Como vamos evoluir nesse tema, por exemplo, sem o envolvimento das cidades? Não é possível. O Pacto Global, em todo o mundo, desenvolve o Cities Programme, uma iniciativa que busca estimular os governos regionais e as cidades a colaborar com o setor privado e com a sociedade civil nas ações voltadas a equacionar os complexos desafios globais em um nível local. O objetivo é alcançar cidades e sociedades inclusivas, sustentáveis e resilientes. Os municípios que fazem parte da Rede Brasil também integram o Cities Programme.

redeGIFE – Qual é o papel das Organizações da Sociedade Civil na interface com a gestão pública para o êxito da implementação da Agenda 2030 no Brasil?

Carlo Pereira – Acreditamos no diálogo, na realização de ações conjuntas para o alcance dos ODS. Só assim, conseguiremos avançar dentro dos objetivos da Agenda 2030. É essa a proposta do ODS 17, que aborda as parcerias e meios de implementação, destacando a importância de uma cooperação ampla, que inclua todos os setores interessados e as pessoas afetadas pelos processos de desenvolvimento.

redeGIFE –Que ações estão previstas em 2019 no sentido de fomentar a implementação da Agenda 2030 no Brasil?

Carlo Pereira – Na Rede Brasil do Pacto Global são várias ações nas áreas de Água e Saneamento, Energia e Clima, Alimentos e Agricultura, Direitos Humanos e Trabalho, Anticorrupção, Comunicação e iniciativas de inserção dos ODS nas estratégias das empresas. Atualmente, temos 30 iniciativas em andamento. Na página da Rede, é possível conhecer os nossos principais projetos.Como mencionei, queremos envolver ainda mais as pequenas e médias empresas com o tema dos ODS. A ideia é que entendam os grandes desafios e vejam isso tudo como oportunidades de negócios, o que vai contribuir para a perpetuidade dessas empresas ao mesmo tempo em que elas atuam alinhadas às necessidades atuais da sociedade. Queremos mostrar que internalizar os ODS é uma relação de ganha-ganha. Amplia a competitividade, já que as organizações podem repensar os seus produtos e serviços, adequando-os à realidade de um mundo que se transforma em uma velocidade nunca vista. E, ao fazer isso, essas organizações passam a trabalhar em prol da Agenda Global de Sustentabilidade.


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