GIFE marca presença na ComNet 2019
Por: GIFE| Notícias| 14/10/2019Mais uma vez, o GIFE marcou presença na ComNet (The Communications Network Annual Conference). Reconhecida como a principal conferência internacional de comunicação voltada à área social, o evento conecta comunicadoras/es e lideranças de organizações de diversas partes do mundo que atuam para desenvolver soluções para os principais desafios globais a tendências, aprendizados e inspiração durante três dias de debates, palestras e sessões de networking com especialistas e profissionais do campo. A edição deste ano marcou o 40º aniversário da Rede.
Desde 2015, representantes da instituição, de associados e de outras organizações do Brasil se organizam para estarem presentes na conferência. Este ano, compuseram a delegação comunicadoras/es do Alana, Fundação Tide Setubal, Instituto C&A e Itaú Social.
Temas como acessibilidade, diversidade, storytelling e autenticidade e abrangência das narrativas foram alguns dos destaques dos debates produzidos durante a edição 2019 da ComNet, que aconteceu entre 2 e 4 de outubro, em Austin (Texas), nos Estados Unidos.
A programação contemplou ainda visitas a campo e mutirões de voluntariado em organizações locais, bem como uma sessão de workshops que antecedeu a agenda do evento.
Diversidade é a chave
O tema da diversidade esteve presente de forma transversal durante todo o evento.
“A primeira mensagem apareceu no momento do credenciamento, quando, além do crachá, fomos convidados a escolher um botton que informava por qual pronome gostaríamos de ser tratados. Uma mensagem que destacava que nossa identidade vai além do nome no crachá. Ficou claro o posicionamento da organização em relação ao tema e também a mobilização do público para esse movimento. Já havia ali uma narrativa”, destaca Fernanda Nobre, gerente de comunicação da Fundação Tide Setubal.
A escolha dos keynote speakers (quatro pessoas negras, duas mulheres – sendo uma trans – e dois homens) também levou em consideração esse aspecto.
“A internet tem um papel fundamental no tema da diversidade, tanto por seu poder de disseminação e influência, quanto pelo fato de que os algoritmos herdam preconceitos da sociedade, provavelmente porque as pessoas que estão por trás da construção desses algoritmos são homens, brancos, etc. Ela [a internet] está pautada e pautando essas narrativas. Falta diversidade nos bastidores, nas equipes, em todo o processo”, pontua Giovana Bianchi, coordenadora de comunicação institucional do GIFE .
Narrativas: abrangência, autenticidade e inspiração sistêmica
Para a coordenadora, um dos principais aprendizados da ComNet 2019 diz respeito à importância de repensar a maneira de construção das narrativas da comunicação de causas.
Na opinião da comunicadora, o tema, presente em vários dos debates produzidos ao longo do evento, se conecta com o atual contexto político tanto dos Estados Unidos – às vésperas de uma nova eleição presidencial -, quanto do Brasil.
“Cada vez mais estamos vendo pessoas, comunicadoras/es e organizações se desafiando para ir além na construção de suas narrativas. Já identificamos que nosso setor tende a falar somente com ele mesmo, o que não é um desafio exclusivo do terceiro setor neste contexto atual de tanta polarização. Precisamos entender como ‘furar essa bolha’ e conseguir de fato dialogar e nos conectar com pessoas que pensam diferente de nós”, ressalta.
Ao longo do evento, os espaços de discussão lançaram luz à importância de novas estratégias para a construção de mensagens mais plurais.
“Usar consensos e valores compartilhados para construir narrativas mais abrangentes, escutar e perguntar mais do que afirmar e impor são algumas práticas possíveis de serem utilizadas para se conectar com as pessoas com mais empatia. Na mesma linha, definir pessoas e grupos por suas potencialidades em vez de estigmatizá-los pelos desafios e ausências – como, por exemplo, a comunicação constantemente produzida no Brasil acerca de suas periferias – são alguns dos passos que precisamos dar na direção de uma comunicação mais autêntica e efetiva”, observa Giovana.
Laura Leal, coordenadora de comunicação do Alana, reforça o debate nas falas de alguns dos keynote speakers. “A Janet [Mock, escritora, diretora e produtora executiva da aclamada série Pose] fala que o foco precisa estar no resultado, mas sem deixar de lado o percurso. A Stacy [Abrams, ativista, autora, líder de direitos civis, legisladora e primeira mulher afro-americana a dar uma resposta ao Estado da União] fala a mesma coisa: não dá para falar só da solução, mas precisamos falar do problema, até porque é por aí que vamos conseguir medir se alcançamos o resultado.”
As atividades trouxeram tanto elementos inspiracionais, quanto exemplos práticos. Para Fernanda, foi importante encontrar referências para a construção de conteúdos capazes de estabelecer pontes com quem pensa de forma diferente. “Algumas delas, como o uso dos valores, das potências e de histórias pessoais, mostraram alinhamento com opções que temos feito nesse momento de reconstrução das nossas narrativas”, observa.
Storytelling
Para a coordenadora de comunicação do GIFE, o storytelling – contar histórias usando técnicas inspiradas em roteiristas e escritores para transmitir uma mensagem de forma inesquecível – é a marca da ComNet e, nesta edição, ganhou um novo olhar. “O debate trouxe de novo o desafio de usar o storytelling para além da mensagem individual, ou seja, mostrando a potência do impacto sistêmico que essas histórias têm.”
Acessibilidade
Laura destaca sua participação em mesa que debateu a acessibilidade na comunicação, tema sobre o qual o Alana vem se debruçando no último período. “Esse é um assunto que senti falta na edição do ano passado e que a edição deste ano trouxe em uma conversa com três pessoas que desenvolvem sites acessíveis”, conta a coordenadora de comunicação do Alana, que ressalta o olhar reforçado pela atividade de que acessibilidade não se refere apenas a pessoas com deficiência.
“Por exemplo, um site em que o texto não é compreensível é um site sem acessibilidade. Estamos falando de como comunicar melhor nossas causas. As barreiras não são de responsabilidade das pessoas, mas dos ambientes. É necessário um ambiente, neste caso um ambiente digital, que acolha a todas as pessoas em suas diversidades.”
Para Fernanda, estar com colegas de outras organizações do Brasil proporcionou uma grande troca sobre as diferentes atividades, gerando conexões entre as escutas para o contexto brasileiro.
“Mais uma vez foi uma ComNet progressista, com temas atuais que dizem respeito aos desafios da realidade americana, mas que em alguns momentos conseguimos fazer paralelos com a realidade brasileira, o que para nós é super importante”, afirma Laura.