“Quem mantém a floresta em pé são as populações originárias e tradicionais”: especialista aponta estratégias para preservação da Amazônia
Por: GIFE| Notícias| 05/09/2022Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Desmatamento, conflitos por território, aumento da fome, mudanças climáticas. Apenas em 2021, o desmatamento na Amazônia registrou aumento de 29%, o maior dos últimos 10 anos, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Para Maria Albenize Farias Malcher, quilombola, liderança do movimento negro no Pará e doutora em Geografia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), é importante que haja aumento dos investimentos e reconhecimento de experiências que já deram certo para manter a floresta amazônica viva.
redeGIFE: A paralisação do Fundo Amazônia fez com que o Brasil tenha perdido a possibilidade de captar recursos na ordem de 20 bilhões de dólares entre os anos de 2019 e 2021. Qual o impacto dessa redução?
Maria Malcher: Uma das linhas de apoio do Fundo Amazônia é a fiscalização dessas áreas que estão sendo impactadas pelo agronegócio e pelas mineradoras. Com a redução do investimento se tem também o encerramento da fiscalização e dos pequenos programas de apoio à questão do reflorestamento. Programas que pararam, como o Municípios verdes, que era financiado pelo fundo.
redeGIFE: É possível falar em manejo sustentável do solo na Amazônia?
Maria Malcher: A atuação dos povos indígenas, associados a outros originários, como a população quilombola e ribeirinha, faz com que se proteja a floresta. Temos muitas comunidades que vivem do manejo sustentável dos recursos, muitas experiências dessa perspectiva do Sistema Agroflorestal (SAF), mas ainda de forma tímida. Hoje, a gente tem clareza de que quem mantém a floresta em pé são as populações originárias e tradicionais.
redeGIFE: O Investimento Social Privado (ISP) pode colaborar com a preservação alinhada com o desenvolvimento econômico da região?
Maria Malcher: É importante esse diálogo do investimento social privado, sobretudo na perspectiva de pequenos projetos. Na linha da comunicação, por exemplo, para levar o que produzimos aqui. E, na defesa do território e financiamentos para as comunidades, para a experiência de mulheres que são defensoras da floresta.
redeGIFE: Há esperança para o Brasil no enfrentamento do desmatamento e preservação da Amazônia?
Maria Malcher: A gente tem que manter a esperança. Ter um fundo que na sua linha de financiamento pense não só na fiscalização mas no reflorestamento, e no reflorestamento não só pela monocultura, mas sim pelo sistema agroflorestal é um caminho estratégico. Essa relação da iniciativa privada, que pode pensar em formas alternativas que entra também na questão da preservação e sociobiodiversidade amazônica. Temos que pensar em um cinturão verde, um grande cinturão de territórios de existência.