Reativação e novas articulações marcam o ano de 2018 para Redes Temáticas do GIFE

Por: GIFE| Notícias| 17/12/2018

Final de ano é tempo de refletir sobre o que passou e traçar os próximos passos. O ano de 2018 foi intenso para as Redes Temáticas (RTs) do GIFE e Regionais. Enquanto houve criação de novos grupos, outros que já existiam foram retomados e também houve aqueles que cresceram ainda mais em sua atuação.

Aline Rosa, analista de articulação do GIFE, avalia que se antes as Redes Temáticas tinham como objetivo ser um espaço de troca e aprendizagem, essa realidade mudou para algumas RTs em 2018, quando os grupos passaram a pensar também em pontos em comum para, enquanto rede, atuar de forma mais conjunta.

Esse movimento traz alguns desafios às organizações, explica a analista, como achar conexões e propósitos comuns em temas, muitas vezes, amplos demais, como por exemplo leitura e escrita, no caso da Rede de Leitura e Escrita de Qualidade para Todos (LEQT) – que começou como um grupo de afinidade e após um tempo de amadurecimento se propôs a pensar uma ação conjunta, a rede como um protótipo que fizesse com que o grupo aprendesse a trabalhar junto.

Abaixo, listamos os destaques de cada grupo, assim como algumas percepções sobre as conquistas em 2018. Confira.

Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente

A RT de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente teve importantes avanços. Em janeiro, algumas organizações membros lançaram um manifesto para que a prioridade da infância seja mantida. Em abril, o grupo marcou presença no X Congresso GIFE com uma mesa que discutiu a contribuição do investidor social para a erradicação da violência contra crianças e adolescentes. Além da apresentação do caso do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Caruaru, município de Pernambuco, Pedro Hartung, advogado do Instituto Alana, apresentou o trabalho da entidade junto à Coalizão Brasileira pelo Fim da Violência contra Crianças e Adolescentes.

O grupo também comemorou os frutos de um trabalho de articulação quando o Brasil passou a integrar, juntamente com outros 20 países, a Parceria Global pelo Fim da Violência contra Crianças e Adolescentes, que reúne diversos atores como governos, agências da Organização das Nações Unidas (ONU), organizações internacionais, sociedade civil e setor privado. Além da participação no 2º Congresso Brasileiro de Enfrentamento a Violências Sexuais contra Crianças e Adolescentes (CBEVS), alguns membros da Rede discutiram a conjuntura desfavorável na qual o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completou 28 anos.

Gustavo Bernardino, coordenador de Políticas Públicas e representante do GIFE em reuniões de diversas RTs, destaca, entre as sete reuniões da Rede de Garantia em 2018, a formação em orçamento público de criança e adolescente e o seminário Empresas & Direitos Humanos. “A formação propiciou a troca de conhecimentos entre os participantes para melhor compreender os mecanismos que asseguram recursos governamentais voltados à temática – incluindo os fundos públicos -, e no seminário foram apresentados cases de empresas com atuação focada na defesa de direitos desse público. O desafio atual diz respeito ao replanejamento das ações da Rede para o biênio 2019-2020 à luz do cenário político que se projeta”, explica.

Cultura

Após ser lançada no 2º semestre do ano passado, 2018 marcou a retomada da Rede Temática de Cultura. Em abril, o grupo organizou uma mesa durante o X Congresso GIFE que refletiu sobre a cultura como um dos pilares de uma cidade criativa e a necessidade de mais orçamento público para a pasta, além de uma apresentação da experiência da Fundação Casa Grande, em Nova Olinda, no interior do Ceará.

O segundo encontro da RT foi realizado, coincidentemente, na mesma semana do incêndio no Museu Nacional, e foi uma oportunidade para os participantes refletirem sobre a insuficiência de recursos no país para os investimentos necessários na área, bem como sobre a política cultural e a responsabilidade dos gestores. “José Teixeira Coelho, professor emérito da ECA-USP, que liderou o debate, fez provocações importantes como ao indagar a quem diz respeito o direito do patrimônio histórico, que é impessoal e indeterminado – e, portanto, não diz respeito a alguém ou a um grupo específico, mas sim à toda coletividade -, dirigindo o raciocínio à visualização da catástrofe em duas perspectivas: a da responsabilidade – que é o que mais se discutia naqueles dias – e a dos valores – o que realmente deveria começar a ser discutido em nossa sociedade”, pondera Gustavo.

Gestão Institucional

A Rede de Gestão Institucional também marcou presença no X Congresso GIFE com uma atividade sobre o papel de gestão de pessoas para a potencialização do Investimento Social Privado (ISP), com apresentação de cases da Fundação Lemann, Telefônica Vivo e Espaço Eco. O grupo também celebrou conquistas ao longo do ano, como a escolha de uma coordenação para a Rede. Além disso, no sexto e sétimo encontros, foi colocada em prática a proposta de discutir diversidade nas organizações para dar continuidade às discussões de gestão de pessoas.

Pamella Canato, coordenadora de desenvolvimento institucional do GIFE, explica que a escolha de um tema específico dentro de gestão de pessoas foi um ponto positivo do ano, já que antes, o grupo promovia discussões mais técnicas sobre aspectos jurídicos e financeiros dentro de recursos humanos. “A primeira reunião sobre o tema tratou das barreiras para promoção da diversidade no sentido amplo – gênero, equidade racial e inclusão de pessoas com deficiência. Já a segunda foi sobre como institutos e fundações estão lidando com o tema e como têm promovido inovações dentro da gestão institucional para conseguir avançar nessa área. O destaque do ano foi trazer pessoas que estão no financeiro, no jurídico e na própria gestão de recursos humanos para pensar todas as formas de barreiras, seja no processo seletivo ou no dia a dia do trabalho, e como vamos gerando essas barreiras que, muitas vezes, não são vistas por todos.”

Grantmaking

Lançada durante o X Congresso GIFE como forma de endereçar o desafio do fortalecimento do grantmaking no setor privado, a RT de Grantmaking percorreu 2018 com debates sobre maneiras de fazer grantmaking de forma coletiva no Brasil e a diminuição de recursos investidos de acordo com o último Censo GIFE, além reflexões sobre como as organizações estão comunicando, organizando e realizando suas ações de grantmaking. Karen Polaz, coordenadora de Fomento e Inovação do GIFE, afirma que a Rede foi criada para focar em questões mais práticas sobre os modos de fazer grantmaking e discutir maneiras de apoiar as Organizações da Sociedade Civil (OSCs) considerando os recursos disponíveis.

“Pensar sobre doação à OSCs perpassa o tema da cultura de doação, mas, para além de dizer que temos que ser mais doadores, entendemos que o foco principal dessa rede é sobre como podemos fazer mais grantmaking – e melhor – e sobre como superar as barreiras que dificultam um investimento social privado mais doador. Para 2019, a Rede vai focar mais na relação dos grantmakers com os grantees e pensar projetos-piloto de atuação conjunta”, ressalta.

Leitura e Escrita de Qualidade para Todos (LEQT)

Grupo que existe desde 2012, a LEQT também participou do X Congresso GIFE. As reflexões da mesa promovida pela rede giraram em torno do questionamento: “É possível um Brasil democrático e sustentável sem leitura de qualidade para todos?”. O grupo também avançou em questões como a necessidade de criação de vínculos com o município de Nova Iguaçu, território do Rio de Janeiro escolhido pela Rede para atuar localmente em parceria com a prefeitura e organizações locais, visando fortalecer as ações do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (PMLLLB).  

A governança da RT também teve novidades em 2018 com a constituição de um conselho consultivo, envolvendo outras organizações, além das que compõem a coordenação, para dar maior representatividade às decisões; a publicação de um conjunto de indicadores para avaliar projetos de leitura; o planejamento e início da elaboração de indicadores para medir o trabalho em rede e um planejamento estratégico com análise das forças, oportunidades, fraquezas e ameaças da Rede para 2019.

Apesar de as reuniões da Rede acontecerem em São Paulo, o grupo ocupa espaços fora do estado, como no próprio território de Nova Iguaçu e também Paraty, onde a LEQT foi uma das organizadoras de uma mesa dentro da programação da FLIP 2018.  

Negócios de Impacto

Para a RT de Negócios de Impacto, o ano de 2018 foi marcado por iniciativas envolvendo associados como o lançamento do Guia 2.5 – Guia para o desenvolvimento de negócios de impacto; debates com múltiplos temas, como tendências e desafios para a atuação dos investidores sociais em negócios de impacto; presença em diversas discussões realizadas no X Congresso GIFE; formação de rede de aprendizado do FIIMP – sigla para Fundações e Institutos de Impacto – e lançamento do FIIMP 2, entre outras.

O ano também contou com dois encontros da RT. Em um deles, um grupo de aproximadamente 50 investidores sociais foi ao Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, para conhecer onde nascem e se desenvolvem os negócios de impacto da periferia. “Esse encontro foi um dos mais bem avaliados pelos associados presentes, pois eles puderam sair das regiões mais centrais de São Paulo para conhecer e conversar com empreendedores sociais que, estando na periferia, enfrentam uma realidade bem distinta. Apesar dos desafios e dificuldades, os negócios de impacto da periferia têm encontrado soluções bastante inovadoras e nossos associados puderam conferir de perto esses resultados positivos”, defende Karen.

Já o oitavo encontro da RT e o último de 2018 tratou da conexão entre negócios de impacto e a cadeia de valor das empresas a partir dos ODS, considerando que é possível que as grandes empresas repensem sua forma de fazer negócio e também possam resolver problemas sociais.

Gestão de Pessoas no Setor Público

Além da RT de Grantmaking, 2018 também marcou o lançamento da Rede de Gestão de Pessoas no Setor Público, constituída em julho. O grupo tem em comum a percepção de que a incidência na gestão pública é fundamental para a atuação do ISP no Brasil gerar resultados e que os principais desafios dessa agenda se relacionam com a gestão de pessoas. “As organizações participantes estão buscando garantir a atração, retenção e desenvolvimento de servidores preparados e qualificados para os desafios da carreira pública focados em entregar os melhores serviços públicos à sociedade brasileira”, ressalta Gustavo.  

Os participantes definiram alguns possíveis enfoques para a agenda de trabalho como advocacy; troca de metodologias formativas; mapa de alavancas e atores do investimento social; atração, engajamento e retenção de servidores; e sistematização e difusão de boas práticas. Além disso, o grupo também deu início a uma discussão sobre o mapeamento do ecossistema relacionado ao tema da gestão de pessoas no setor público, elaborado a partir de uma pesquisa com associados ao GIFE e parceiros que já estão próximos à Rede com o objetivo de otimizar a atuação conjunta.

Nesse encontro, o segundo da rede, Gustavo destaca a colaboração da professora Regina Pacheco, da Fundação Getulio Vargas (FGV), que fez uma exposição do cenário atual do funcionalismo e alta administração pública, com a necessidade de uma revisão do padrão e normativa da gestão de pessoas no setor público, possibilitando outras modelagens que dialoguem melhor com a contemporaneidade do mercado de trabalho.

Saúde

Criada em 2015, a Rede Temática de Saúde passou por um momento de hiato, voltando à ativa em junho de 2018 a partir da percepção da Saúde como estratégia de investimento social privado. DCriada em 2015, a Rede Temática de Saúde passou por um momento de hiato, voltando à ativa em junho de 2018 a partir da percepção da Saúde como estratégia de investimento social privado relacionada a um tema de enorme relevância na agenda pública brasileira. Em um dos encontros, foi realizada atividade para identificação das prioridades do grupo enquanto rede, com destaque para o mapeamento de organizações da sociedade civil atuantes em Saúde, para apoio a projetos

Redes Regionais

Além das Redes Temáticas, o GIFE também conta com as Redes Regionais, criadas para aproximar organizações e investidores de determinada região para que possam se conhecer, trocar experiências e buscarem soluções conjuntas para desafios regionais. “No movimento de fortalecimento das organizações, o GIFE tem como proposta levar as agendas e temáticas do investimento social privado para fora do eixo Rio-São Paulo. Propiciar espaços fora desse eixo, onde as pessoas possam falar de suas organizações, ver o que as outras estão fazendo, além de aprender e trocar, é uma oportunidade para que se reconheçam no território. Às vezes, o que uma instituição está fazendo pode servir de aprendizado à outra”, explica Aline.  

Atualmente, há três Redes Regionais: Rede de Investidores Sociais (RIS) do Interior Paulista, RIS do Distrito Federal e RIS de Curitiba. Por uma questão logística, o GIFE acompanha de perto a RIS do interior do estado de São Paulo, mas faz questão de saber e apoiar as articulações das outras duas. “Nós temos associados que coordenam e mantém a rede engajada. Na medida que eles entendem a necessidade de falar sobre alguma agenda do GIFE, nos organizamos para participar presencialmente.”

Comunicação e Avaliação

Apesar de não ser propriamente uma Rede Temática, a Avaliação, uma das oito agendas estratégicas do GIFE para o período 2015-2020, foi um dos temas com grande avanço em 2018. Segundo o Censo GIFE 2016, 20% dos 116 investidores sociais não avalia seus projetos ou programas e 22% não dispõe de práticas ou políticas de avaliação estabelecidas, o que demonstra que há uma margem para evolução na temática.

Além de o tema ter marcado presença em diversas mesas do X Congresso GIFE, foi assunto principal de inúmeros eventos, como o 14º Seminário Internacional de Avaliação, realizado em agosto, em São Paulo, com o tema “Pensamento Avaliativo e Transformação Social”.  No fim de outubro, o GIFE formou uma delegação brasileira de investidores sociais que participou da conferência ‘Evaluation 2018 – Speaking Truth to Power’, realizada em Cleveland, nos Estados Unidos. De volta ao Brasil, o grupo se reuniu em São Paulo para trocar aprendizados adquiridos no evento e consolidar a agenda do próximo período. 

“As atividades da agenda de Avaliação têm, entre seus objetivos, fortalecer, qualificar e ampliar as práticas de avaliação na rede do GIFE, já que se trata de um tema transversal e perene no investimento social privado. Pensando nos próximos passos, o grupo de coordenadores já têm se organizado para planejar novas ações e iniciativas em 2019 a partir das contribuições e demandas dos associados nos últimos anos”, afirma Karen Polaz.

Juntamente com Avaliação, Comunicação, outra agenda estratégica do GIFE, também teve um ano movimentado, a começar pelo lançamento da Rede Narrativas durante o X Congresso GIFE. Com ações como a promoção de campanhas de engajamento e advocacy para enfrentar problemas sociais complexos e o mapeamento do setor de comunicação de organizações da sociedade civil no Brasil, a Rede tem como objetivo o desenvolvimento do campo da comunicação para organizações sem fins lucrativos, com cada vez mais pessoas inspiradas e engajadas em causas sociais para construir uma sociedade mais justa. Confira mais detalhes sobre Comunicação neste link.

Desenvolvimento Local

A Rede de Desenvolvimento Local, em processo de reestruturação, deve voltar à ativa em 2019 com nova coordenação e novas proposições.

Expectativas para 2019   

Em 2019, continua o desafio das redes temáticas se articularem enquanto rede e buscarem ainda mais ações conjuntas – com desafio de pensar encontros articulados com outras redes temáticas e regionais do GIFE. “Acredito que trabalhar em rede faz sentindo com existem propósitos comuns -, para além de compartilhamento, aprendizados e a soma de expertises soma-se o desafio de buscar valor e sentindo de pertencimento que estão acima de interesses individuais, ressalta Aline.

Nesse sentido, a analista defende que, a atuação em grupo pode ser um instrumento importante para o próprio GIFE entender seu papel de cooperação dentro de cada rede -, articulando e colaborando para um país mais justo, democrático e sustentável. 


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